domingo, 7 de julho de 2013

Jovens trocam a balada pela construção de casas em comunidades carentes de SP

Os olhos da descendente de coreanos Johee Ha, 24, ficam ainda mais apertados enquanto ela conta sua última façanha. "Aí, quando finalmente fui lavar o cabelo, caíram cinco 42 da minha cabeça!"
Ao seu redor, estudantes com lama dos pés à cabeça gargalham. Só a reportagem da Folha de São Paulo perde a piada.
Fica a dica: 42 é o nome de um tipo de prego. O mesmo que Johee, aluna de arquitetura do Mackenzie, usava como prendedor de cabelo improvisado. Igualzinho aos que ela e outros 170 jovens de classe média martelaram para levantar 12 casas na favela Vilma Flor (zona leste), próxima ao município de Suzano.


O mutirão é obra do Teto, um projeto chileno que já mobilizou meio milhão de jovens na construção de mais de 3.300 moradias em comunidades pobres na América Latina.
No Brasil, ergueram 1.300 tetos em 60 localidades de São Paulo. Os ajudantes vêm, na maioria, da região central e da zona oeste. Há também gente do Paraná e do Rio. Muitos debutam em programas de voluntariado.

'PEDREIROS'
O administrador Marcelo Figueiredo, 25, que mora perto da avenida Paulista, explica o que fazia tão longe de casa. "Me formei em administração. Mas hoje sou pedreiro."
Ele trabalhava dez horas por dia como consultor de negócios, ganhava bem, mas estava frustrado. Aí pediu demissão para viajar o mundo.
Marcelo vendeu seu Honda Civic para economizar o suficiente. Antes de seguir viagem, tornou-se "pedreiro" voluntário porque precisava "conhecer o Brasil para poder sair do país".
De perto, as casas lembram um Lego com peças de madeira, zinco e ferro. Ninguém ali precisa ser especialista em construção civil.
Os mais experientes coordenam os calouros em três grupos: logística (responsável pelo vaivém do material até as obras), monitoria (que resolve 'pepinos' e faz o meio de campo com a comunidade) e intendência (a cargo de comida e limpeza).
Os demais, distribuídos em grupos de mais ou menos dez pessoas, erguem as casinhas "no braço".

E elas são apertadas: 18 m² para famílias com, em média, cinco pessoas. Ainda assim, o valor segue recomendação da ONU, que indica a área mínima de 3,5 m² para que uma pessoa viva com conforto.
Entre moradores e voluntários, crítica recorrente é sua abrangência: geralmente, as novas casas deixam de fora 90% da comunidade (escolhem quem está em situação mais crítica).
A ONG que promete estimular o "fortalecimento contínuo da comunidade" gera discórdia também por ignorar problemas comuns a todos, como limpeza e esgoto a céu aberto.
De 20 a 28 de julho, o braço brasileiro do Teto promoverá a "construção de inverno", com nove dias ininterruptos de trabalho. São esperados cerca de 600 voluntários.
Em geral, bastam dois fins de semana para construir e pintar as casas --de azul, a cor do logo do Teto, ou de vermelho, verde ou amarelo.
A labuta começa cedo. No fim de semana em que fomos lá, acordamos antes do amanhecer. No dia anterior, um sábado, o trabalho foi até as 20h30. Após jantar coletivo, todos dormem em colchões infláveis ou sacos de dormir, dentro das salas de aula de uma escola próxima.
O clima é um misto de "BBB" com excursão de escoteiros. Meninas trocam de roupa sob cobertores ou enroladas em toalhas, enquanto rapazes circulam sem camisa. A cada cinco minutos alguém grita: "Vai, Tetooooo!". Quase sempre, é o estudante de engenharia Gabriel Chaves, 23.




'VOLUNTÁRIO-DELÍCIA'
Gabriel, o "voluntário-delícia" (apelido dado pela mulherada), que mora com os pais em Santana (zona norte), é um dos líderes na construção.
Com bandana da bandeira do Brasil na cabeça, fala alto. "Fumava maconha todo dia. Depois cocaína. No Rio, experimentei crack. Aí, aos 19 anos, pedi pelo amor de Deus para minha mãe para ser internado."
Mãe e Deus satisfizeram seu desejo. Chaves ficou seis meses em uma clínica católica, no interior paulista. Largou o vício, aprendeu inglês e virou missionário. Em setembro, foi apresentado ao Teto por uma amiga.
"Delícia", que fuma um cigarro atrás do outro, conta que hoje extravasa "ajudando os outros". Acreditamos. Vale lembrar que sexo é terminantemente proibido nos fins de semana de construções.
Para participar da próxima construção, acesse bit.ly/MHNMbX.



Fonte do Texto: Folha de São Paulo / RICARDO SENRA
WESLEY KLIMPELDE SÃO PAULO

Imagens da Internet

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado por participar.
Deus abençoe!